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terça-feira

Rhynchophorus ferrugineus em palmeiras

Praga do escaravelho está a condenar à morte dezenas de árvores no Parque Natural.Ao chegar ao Parque Natural de Arrábida (PNA), pela estrada Sul, o cenário é desolador: dezenas de palmeiras estão mortas ou a morrer por causa da doença do escaravelho. Uma praga que, nos últimos anos, invadiu o país e que até agora as autoridades não conseguiram controlar.

Logo à saída de Setúbal, entre o mar e o Parque, vêem-se a primeiras árvores de folhas secas, a cortar o céu. Quase todas mortas. Uma ou outra parece resistir ao insecto que as come desde o interior, mantendo poucos ramos esverdeados. Mas a cor mais comum é o castanho.

«Grande parte destas árvores tem várias dezenas de anos. É uma pena desaparecerem», diz José Paulo Martins, que, como cresceu em Setúbal, lembra-se de ver estas palmeiras à beira da estrada desde pequeno. «Na Arrábida as palmeiras fazem parte da paisagem natural, são fundamentais», argumenta, lembrando que, se muitas destas árvores são já do século XVII ou XVIII, ali as palmeiras «terão sido plantadas na primeira metade do século XX».

Todas as que agora estão a morrer na Arrábida são, segundo José Paulo Martins, de uma espécie oriunda das ilhas Canárias: as phoenix canariensis. «São palmeiras maiores e mais frondosas [com ramos e galhos longos]», explica o especialista da Quercus que acompanhou o início desta epidemia no Algarve, em 2007 – ano em que o escaravelho entrou no país através do comércio de plantas.

Desde então, as autarquias têm tentado combater a praga com tratamentos biológicos e químicos, o que tem sido difícil. «E se nada for feito neste caso, há o grande perigo de a praga da Arrábida se estender ao resto do concelho», alerta o ambientalista, notando que «Setúbal é um dos locais com mais palmeiras, por causa do clima». As árvores predominam no jardim municipal, na Av. Luísa Todi e nas praias.

O ambientalista lembra ainda que o perigo de extinção pode ser grande, à semelhança do que aconteceu com as palmeiras anãs, naturais do país, e que desapareceram da Arrábida. «Seria triste. As pessoas estão muito habituadas há várias gerações a ver ali as palmeiras», refere. E acrescenta: «São árvores belas, de que as pessoas gostam».

Por isso, considera que as diferentes entidades, sejam governamentais, autárquicas ou privadas, «deveriam investir na sua defesa», mesmo se não são árvores originárias do país.

Ministério tem recebido queixas

Por temer a expansão da praga do escaravelho vermelho a todo o concelho, a presidente da Câmara de Setúbal, Maria das Dores Meira, criou, numa iniciativa inédita em Portugal, o Plano Municipal de Controlo do Escaravelho.

Para este programa, lançado no ano passado, foram atribuídos 54 mil euros – que se somaram aos oito milhões já gastos em 2010. E levou a que se juntassem em Setúbal elementos de várias autarquias do país e especialistas portugueses, italianos e espanhóis, com experiência no controlo da praga, para um seminário internacional sobre o tema.

Ao mesmo tempo, os técnicos da câmara especializaram-se no escaravelho e meteram mãos à obra: além das podas sanitárias, que incluem «o corte ou limpeza das folhas secas», como explicou fonte oficial da autarquia ao SOL, foram feitos tratamentos biológicos e químicos. «Apostou-se em tratar palmeiras em sítios de grande impacto visual ou com elevado valor patrimonial», refere a mesma fonte. No conjunto, explica ainda, «a câmara tratou 789 palmeiras». Mas nem todas sobreviveram: 22 tiveram de ser abatidas. A autarquia congratula-se, no entanto, com «a enorme taxa de sucesso». «É de 97,21%», garante aquela fonte. De fora, ficaram 50 palmeiras mortas no concelho «devido ao facto de se localizarem em zonas de difícil acesso».

Quanto às palmeiras da Arrábida, o Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade diz não dispor de dados sobre o seu estado sanitário. «Não detemos competências na conservação das espécies exóticas», justificou ao SOL fonte oficial daquele organismo, tutelada pelo Ministério do Ambiente. No entanto, admite que a situação já gerou várias reclamações: «Temos recebido no PNA algumas queixas que temos reencaminhado para o Município de Setúbal, dado tratar-se de situações em perímetro urbano».

O início da invasão do escaravelho

Originário da Ásia e da Oceania, o escaravelho da palmeira, cujo nome científico é Rhynchophorus ferrugineus, chegou a Portugal em 2007, através de viveiros contaminados para comércio de palmeiras. Com uma capacidade de contaminação rápida, em caso de ausência de tratamento, condena as árvores à morte, comendo-as a partir do interior e secando-as. Em Portugal, o escaravelho da palmeira chegou primeiro ao Algarve, concretamente a Albufeira, mas rapidamente se propagou pelo resto do país, sobretudo no Centro. Lisboa, Oeiras, Setúbal e Cascais são dos concelhos mais afectados pela praga.

O problema expandiu-se tão rapidamente em vários países europeus, como Espanha, Portugal e Itália, que a União Europeia tornou a luta contra esta praga obrigatória entre os seus Estados-membro com produtos homologados. O também conhecido como escaravelho vermelho ataca principalmente palmeiras das Canárias ou as espécies Phoenix. Quando se avista a copa de uma palmeira com os ramos secos, geralmente, segundo os especialistas, já há pouco a fazer.

Fonte: http://sol.sapo.pt/inicio/Sociedade/Interior.aspx?content_id=40676