Um estudo inédito no Brasil mostrou que a utilização do biocarvão ou biochar, produto resultante da pirólise (queima controlada de resíduos orgânicos) pode ser a solução para a restauração de solos degradados, além de promover aumento de quase 30% na produção agrícola e de pastagens e contribuir para a preservação do meio ambiente. O resultado da pesquisa, que foi coordenado pela professora do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-RIO e a diretora do Instituto Internacional para Sustentabilidade (IIS), Agnieszka Latawiec, foi tema da revista científica Scientific Reports, do grupo Nature Research, publicada nesta segunda-feira (19/08).
Segundo o estudo, a aplicação do biocarvão em pastagens degradadas aumentou em 27% a produtividade de gramíneas forrageiras (braquiárias), aumentou a quantidade de macronutrientes e diminuiu a acidez do solo sequestrando carbono, contribuindo assim para a regulação do clima.
Para a pesquisadora, que também é coordenadora do Centro de Ciências da Conservação e Sustentabilidade do Rio (CSRio) da PUC-Rio, a utilização do biocarvão traz inúmeros benefícios ambientais e potencialmente econômicos tanto para produtores agrícolas, quanto pecuaristas.
“O Brasil é o segundo maior produtor de carne do mundo e projeta aumentar sua produção agrícola para atingir a primeira posição no ranking mundial. Mas a maioria das terras desmatadas no Brasil é ocupada por pecuária de baixa produtividade, onde mais de 70% das pastagens brasileiras são consideradas degradadas, com menos de um animal por hectare. Essa é uma das causas do desmatamento, da perda da biodiversidade e da emissão de gases do efeito estufa, que ocorrem quando os produtores buscam por novas terras para expansão agrícola e pecuária, com solos de melhor qualidade. A produção de biocarvão em larga escala seria uma boa solução para suprir essa demanda de produção de pasto e de outros tipos de cultivos e poderia ser realizada por processos industriais, como acontece em vários países na Europa, Estados Unidos e Austrália. A produção de biocarvão, nestes lugares é, inclusive, o resultado da forma como eles tratam seus resíduos orgânicos, produzindo energia e conciliando assim desenvolvimento econômico com a conservação do meio ambiente” , explica.
Sequestro de Carbono
Segundo a professora Agnieszka Latawiec, além do aumento da produção de alimentos, o estudo avaliou outro serviço ecossistêmico provido por solos tratados com biocarvão: o sequestro de carbono.
A pesquisa mostrou que cada hectare fertilizado com biocarvão salvou 91 toneladas de Carbono Equivalente (CO2eq) como efeito poupa-terra e teve 13 toneladas de CO2eq sequestradas no solo, o que equivale a US$ 455 em crédito de carbono.
“Se houver investimento em técnicas eficientes de produção de biocarvão, como a criação de usinas para processamento dos resíduos, ou se os produtores que adotarem o biocarvão forem recompensados com Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) ou de Agricultura de Baixo Carbono (como o Plano ABC), eles estarão preservando o meio ambiente ao mesmo tempo em que obtêm recursos para manutenção e aumento de sua produtividade. Assim, o biocarvão mostra-se como ferramenta promissora para melhorar a produtividade de pastagens, lavouras e conservar o meio ambiente”, destaca Latawiec, que cita o exemplo da Polônia, onde já existem usinas que produzem energia em fornos de pirólise para abastecer a população e fornecem o biocarvão como resíduo, com preço bastante competitivo quando comparado com outros insumos usados pelos agricultores.
A pesquisa
O biocarvão usado no experimento coordenado pela pesquisadora Agnieszka Latawiec foi produzido na Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ) e aplicado na “Fazendinha” uma área experimental localizada no bioma da Mata Atlântica em diversos tipos de cultivos: pastagens, milho, feijão e mudas nativas.
O que é o biocarvão ou biochar
É o produto obtido por meio da queima controlada de resíduos orgânicos (pirólise), como casca de coco ou galhos de árvores podadas. O biocarvão é misturado ao solo com objetivo de aprimorar sua composição, melhorando a textura do solo, ajudando na retenção de água e carbono - reduzindo a emissão de gases do efeito estufa e em vários casos, potencializando a produção das plantações.
Fonte: Pesquisa, realizada pela professora do Departamento de Geografia e Meio Ambiente da PUC-Rio e diretora do Instituto Internacional de Sustentabilidade (IIS), Agnieska Latawiec, foi tema da revista científica Scientific Reports, do Grupo Nature Researchs, publicada na Europa, em 19/08/2019.