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Aprender a ler e a escrever debaixo de árvores
Manuela Gomes - Jornal de Angola
Francelina tem sete anos e já está na segunda classe. Todas as manhãs, a caçula de seis irmãos percorre cerca de seis quilometros para chegar à escola e assim garantir o seu futuro.
Governo provincial do Cunene tem em execução programa para construção de escolas e acabar com as aulas debaixo de árvores
Fotografia: Kindala Manuel
A realidade da escola não foge muito aquilo que são as aulas em muitos kimbos de Angola. Francelina e outras crianças recebem, todos os dias, ensinamentos debaixo de uma enorme árvore, sentada num tronco apoiado em dois paus presos à terra.É nestas condições que Francelina e outras 19 crianças aprendem o "A,B,C" e passam grande parte do seu dia. Aquela árvore é como a sua "segunda casa".
Com os livros na mão, France, como é carinhosamente chamada pelos mais próximos, faz dos seus pequenos joelhos a mesa de apoio para escrever. É assim que vai aprendendo e guardando os saberes que um dia podem vir a engrandecer o crescimento do seu país.
Desinibida e feliz, brinca no intervalo com os colegas, indiferentes ao modo de escolaridade que estão a ter, porque pura e simplesmente nunca conheceram outro tipo de vida escolar.
Mas não é apenas o facto da sua cadeira ser um tronco e os seus joelhos uma mesa improvisada que tornam particular a situação que partilha com mais 19 crianças.
Um outro pormenor prendeu a nossa atenção: o tamanho do lápis com que Francelina escreve o abecedário é do tamanho de uma bituca de cigarro e de cor castanho. Interrogada sobre a razão de ser de tão diminuta e envelhecida ferramenta, explicou, na sua língua materna kwanhma, que já tinha o lápis guardado fazia tempo. "A minha mãe ainda não tem dinheiro para comprar outro lápis".
Conta que a mãe sempre lhe recomenda que não perca os materiais da escola e que é preciso usá-los com cuidado e guardar bem.
Com os livros na mão, France, como é carinhosamente chamada pelos mais próximos, faz dos seus pequenos joelhos a mesa de apoio para escrever. É assim que vai aprendendo e guardando os saberes que um dia podem vir a engrandecer o crescimento do seu país.
Desinibida e feliz, brinca no intervalo com os colegas, indiferentes ao modo de escolaridade que estão a ter, porque pura e simplesmente nunca conheceram outro tipo de vida escolar.
Mas não é apenas o facto da sua cadeira ser um tronco e os seus joelhos uma mesa improvisada que tornam particular a situação que partilha com mais 19 crianças.
Um outro pormenor prendeu a nossa atenção: o tamanho do lápis com que Francelina escreve o abecedário é do tamanho de uma bituca de cigarro e de cor castanho. Interrogada sobre a razão de ser de tão diminuta e envelhecida ferramenta, explicou, na sua língua materna kwanhma, que já tinha o lápis guardado fazia tempo. "A minha mãe ainda não tem dinheiro para comprar outro lápis".
Conta que a mãe sempre lhe recomenda que não perca os materiais da escola e que é preciso usá-los com cuidado e guardar bem.
Francelina é natural de Ombandja, município da província do Cunene. Apesar de ter nascido em solo angolano, não fala muito bem a língua portuguesa.
A sua alegria por estar a estudar é bem visível no sorriso largo que estampa no rosto, com a inocência de quem vive num lugar calmo e respeitador das tradições. A sua felicidade floriu mais ainda quando das mãos da nossa equipa de reportagem recebeu uma garrafa de sumo fresco, que pôs imediatamente num dos bolsos da sua bata encarnada, soltando um "muito obrigada" na sua língua kwanhama.
Escola amiga da criança
Como ela, muitos outros meninos andam na escola em Ombandja. Para felicidade dos pequenos, o governo da província do Cunene, com o apoio do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) e parceiros, está a construir 15 escolas, que se inserem no novo método de pedagogia denominado "Escolas amigas da criança", que visam proporcionar às crianças, maiores e melhores condições de ensino e aprendizagem.
Segundo o diretor da escola do ensino primário do bairro de Naipalala, Edmundo Curiangana, a instituição que dirige possui apenas seis salas, o que não satisfaz a procura de crianças que pretendem ingressar na escola. "A insuficiência de salas tem levado a que muitas crianças ainda recebam aulas debaixo das árvores", lamentou, acrescentando que ali o sol, o frio e, por vezes, a chuva, invadem o lugar e a concentração dos alunos.
O chefe do Programa para a Educação da UNICEF, Álvaro Fontini, referiu que no Cunene a sua agência das Nações Unidas, em parceria com o governo local, está a desenvolver o Programa de Apoio ao Ensino Primário (PAEP), que tem como objectivo principal formar professores.
Segundo ele, este programa tem contribuído para a melhoria do ensino nas escolas dos seis municípios da província.
"Foi feito com o intuito de serem os próprios professores a criar ambientes salutares para as crianças nas salas e também a proporcionar às mesmas uma melhor forma de aprendizagem", sublinhou.
O que se pretende, em suma, é levar às crianças um ensino de qualidade, o que só e possível com professores bem formados.
O governo da província do Cunene e parceiros estão a construir 15 escolas do ensino primário, distribuídas por vários municípios, para retirar dessa condição cerca de quatro mil crianças que até hoje têm aulas debaixo das árvores. "Não podemos continuar a ensinar as nossas crianças nestas condições", disse Edmundo Curiangana.
Crianças felizes
De acordo com Álvaro Fontini, a parceria entre a UNICEF e o governo da província vai permitir a elaboração de manuais para módulos de língua portuguesa e matemática, destinados à formação e nivelamento do ensino primário às crianças com baixo nível acadêmico.
Para ele, no sector da educação na província do Cunene, particularmente nas zonas rurais, ainda há muito por fazer.
"É interessante ver a forma como os alunos interessados em aprender se sentam nas escolas improvisadas debaixo das árvores. Acho que já podemos começar a fazer aulas muito mais cooperativas e participativas.
Pretendemos com estes projetos, numa primeira fase, darmos os primeiros passos, para que eles sejam uma realidade nesta província e na vida das populações", referiu.
Na sua opinião, é preciso inculcar na mente das crianças, desde muito cedo, que os alunos e professores têm um compromisso com o trabalho e com a sociedade. "Por exemplo, na comuna de Ombala ya Mungo, foi muito interessante ver o trabalho conjunto que está a ser desenvolvido entre alunos e professores na área do HIV/Sida, com as crianças que necessitam de novas famílias, porque os pais morreram devido ao vírus", explicou.
A inserção dessas crianças em novas famílias é, na sua perspectiva, algo de muito importante, mas também uma oportunidade para todos ganharem uma nova maneira de ver o quão importante é a educação na vida das pessoas.
Álvaro Fontini considera que a grande ajuda solidária às crianças que perderam os seus parentes, em particular as que vivem com HIV, é uma oportunidade para criar novas formas de levar as crianças a crescerem num ambiente completo e amigável.
O programa "Escolas amigas da criança" baseia-se na lógica de todas as escolas de Angola, sem exceção, oferecerem aos seus alunos, além de um ensino de qualidade, assistência na área da saúde e também de diversão segura, possuindo locais onde elas possam brincar com segurança e em ambiente sadio. "As escolas devem estar mais próximas das crianças", afirma Álvaro Fontini. "Ter crianças felizes e um crescimento integral é o que se pretende com este programa", concluiu.
A sua alegria por estar a estudar é bem visível no sorriso largo que estampa no rosto, com a inocência de quem vive num lugar calmo e respeitador das tradições. A sua felicidade floriu mais ainda quando das mãos da nossa equipa de reportagem recebeu uma garrafa de sumo fresco, que pôs imediatamente num dos bolsos da sua bata encarnada, soltando um "muito obrigada" na sua língua kwanhama.
Escola amiga da criança
Como ela, muitos outros meninos andam na escola em Ombandja. Para felicidade dos pequenos, o governo da província do Cunene, com o apoio do Fundo das Nações Unidas para Infância (UNICEF) e parceiros, está a construir 15 escolas, que se inserem no novo método de pedagogia denominado "Escolas amigas da criança", que visam proporcionar às crianças, maiores e melhores condições de ensino e aprendizagem.
Segundo o diretor da escola do ensino primário do bairro de Naipalala, Edmundo Curiangana, a instituição que dirige possui apenas seis salas, o que não satisfaz a procura de crianças que pretendem ingressar na escola. "A insuficiência de salas tem levado a que muitas crianças ainda recebam aulas debaixo das árvores", lamentou, acrescentando que ali o sol, o frio e, por vezes, a chuva, invadem o lugar e a concentração dos alunos.
O chefe do Programa para a Educação da UNICEF, Álvaro Fontini, referiu que no Cunene a sua agência das Nações Unidas, em parceria com o governo local, está a desenvolver o Programa de Apoio ao Ensino Primário (PAEP), que tem como objectivo principal formar professores.
Segundo ele, este programa tem contribuído para a melhoria do ensino nas escolas dos seis municípios da província.
"Foi feito com o intuito de serem os próprios professores a criar ambientes salutares para as crianças nas salas e também a proporcionar às mesmas uma melhor forma de aprendizagem", sublinhou.
O que se pretende, em suma, é levar às crianças um ensino de qualidade, o que só e possível com professores bem formados.
O governo da província do Cunene e parceiros estão a construir 15 escolas do ensino primário, distribuídas por vários municípios, para retirar dessa condição cerca de quatro mil crianças que até hoje têm aulas debaixo das árvores. "Não podemos continuar a ensinar as nossas crianças nestas condições", disse Edmundo Curiangana.
Crianças felizes
De acordo com Álvaro Fontini, a parceria entre a UNICEF e o governo da província vai permitir a elaboração de manuais para módulos de língua portuguesa e matemática, destinados à formação e nivelamento do ensino primário às crianças com baixo nível acadêmico.
Para ele, no sector da educação na província do Cunene, particularmente nas zonas rurais, ainda há muito por fazer.
"É interessante ver a forma como os alunos interessados em aprender se sentam nas escolas improvisadas debaixo das árvores. Acho que já podemos começar a fazer aulas muito mais cooperativas e participativas.
Pretendemos com estes projetos, numa primeira fase, darmos os primeiros passos, para que eles sejam uma realidade nesta província e na vida das populações", referiu.
Na sua opinião, é preciso inculcar na mente das crianças, desde muito cedo, que os alunos e professores têm um compromisso com o trabalho e com a sociedade. "Por exemplo, na comuna de Ombala ya Mungo, foi muito interessante ver o trabalho conjunto que está a ser desenvolvido entre alunos e professores na área do HIV/Sida, com as crianças que necessitam de novas famílias, porque os pais morreram devido ao vírus", explicou.
A inserção dessas crianças em novas famílias é, na sua perspectiva, algo de muito importante, mas também uma oportunidade para todos ganharem uma nova maneira de ver o quão importante é a educação na vida das pessoas.
Álvaro Fontini considera que a grande ajuda solidária às crianças que perderam os seus parentes, em particular as que vivem com HIV, é uma oportunidade para criar novas formas de levar as crianças a crescerem num ambiente completo e amigável.
O programa "Escolas amigas da criança" baseia-se na lógica de todas as escolas de Angola, sem exceção, oferecerem aos seus alunos, além de um ensino de qualidade, assistência na área da saúde e também de diversão segura, possuindo locais onde elas possam brincar com segurança e em ambiente sadio. "As escolas devem estar mais próximas das crianças", afirma Álvaro Fontini. "Ter crianças felizes e um crescimento integral é o que se pretende com este programa", concluiu.
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