Por José Otavio Menten, Diretor Financeiro do Conselho Científico Agro Sustentável (CCAS), Eng. Agrônomo, Mestre e Doutor em Agronomia, Pós-Doutorados em Manejo de Pragas e Biotecnologia e Professor Associado da ESALQ/USP; e Ticyana Banzato, engenheira agrônoma e doutoranda na Esalq.
Figura 1: (A) flores de pêssego mostrando sintomas típicos de infecção por Plum Pox virus. (B) Anéis e manchas cloróticos em folhas de pessegueiro. (C) anéis amarelos concêntricos em fruto de pêssego. (D) padrões anelares em frutos de damasco. Foto Sochor et al. (2012) - http://www.mdpi.com/1999-4915/ 4/11/2853/htm
Figura 2: lesões necróticas e esporulação de Moniliophthora roreri em frutos de cacau. Foto: Johnson et al. (2017) - https://www.ndrs.org.uk/articl e.php?id=036002#
Figura 3: Planta de mandioca apresentando sintomas mosaico causado por African Cassava Mosaic Virus – Foto: Eiselen Foundation Ulm – www.eiselen-stiftung.de/
Figura 4: Plantas de mandioca com sintomas de mosaico causado por African Cassava Mosaic Virus (A, C e D) planta saudável (B) – Foto: Alabi et al, 2011.
Muitas espécies vegetais cultivadas no Brasil, atualmente, foram
trazidas de outras regiões do mundo, como Ásia, África e países vizinhos na
América do Sul. Nativas do Brasil, temos como exemplo a mandioca, amendoim,
seringueira e o guaraná. Os países originários de uma espécie de planta são
chamados centros de origem e de diversificação das espécies.
Os
fitopatógenos não estão distribuídos homogeneamente em todo mundo; uma vez que,
para ocorrer a doença, é necessário que três fatores se estabeleçam: hospedeiro
suscetível, ambiente favorável e a presença do agente causal. Por isso,
patógenos que são frequentes nos centros de origem das espécies não
necessariamente estão presentes nas áreas onde foram introduzidas
posteriormente.
Um exemplo de
estabelecimento de doenças exóticas no país, por exemplo, é na cultura da soja.
De 1961 para os dias atuais, surgiram doenças como o cancro da haste em 1989, o
nematoide do cisto em 1992 e a emblemática ferrugem asiática da soja em 2001,
que, desde então, já causou prejuízo estimado em mais de US$ 100 bilhões,
envolvendo aumento na aplicação de fungicidas e redução da produtividade.
Outros exemplos
de doenças que causaram grande impacto após seu estabelecimento no Brasil:
requeima da batata e tomate (1898), mosaico da cana-de-açúcar (1920), carvão da
cana (1946), ferrugem do café (1970), ferrugem americana da soja (1979),
ferrugem marrom da cana-de-açúcar (1986), vassoura-de-bruxa do cacau (1989) e
ferrugem alaranjada da cana (2009). O caso mais recente de introdução de uma
nova praga de grande importância econômica foi em 2013, com a entrada de um
inseto da espécie Helicoverpa armigera.
Estima-se que
65% dos patógenos introduzidos no Brasil foram devidos a atividades humanas, em
especial trânsito de vegetais; outra parte devido ao transporte pelo vento,
máquinas, animais. Calcula-se que entre 1890 e 2014 tenham sido introduzidas no
Brasil mais de duas mil novas pragas agrícolas em diversas culturas, envolvendo
não apenas patógenos vegetais, mas também insetos, ácaros e plantas daninhas.
Destas, pelo menos 40 causaram grandes transtornos à nossa economia. Hoje, o
Brasil possui 15,5 mil km de fronteira possível de entrada de novos patógenos,
além de portos e aeroporto. Em média, são 850 vias de ingresso que têm de ser
fiscalizadas.
Se há tanto
perigo das plantas transportarem patógenos exóticos, por que isto ainda é
feito? A resposta é simples: além da diversificação das espécies cultivadas,
busca-se ampliar a base genética visando o melhoramento para atender o mercado.
Mas, há formas corretas para realizar a introdução de uma nova espécie vegetal
no país, livre de pragas exóticas, perigosas para nossa agricultura.
Baseado no
princípio geral de controle de doenças Exclusão, quando é impedida a entrada de
patógenos novos, é realizada inspeção e fiscalização, apoiadas em legislações
específicas, e ainda contamos com dez estações quarentenárias no país, que
dispõem de infraestrutura, equipamento e corpo técnico qualificado para
detectar, identificar e erradicar patógenos quarentenários em materiais
vegetais que ingressariam no território nacional.
A quarentena
previne a introdução e disseminação de novos patógenos, que são regulamentados
por apresentarem importância econômica. Podem ser denominados patógenos
quarentenários ausentes (A1) ou quarentenários presentes (A2) que são aqueles
que estão restritos a algumas regiões do país e sob controle oficial. Para
isso, é realizada a Análise de Risco de Pragas (ARP), que compara a lista de
patógenos relatados em todo o mundo com os relatados no Brasil.
Aqueles que
ainda não foram detectados no Brasil e que podem causar danos devem ser
regulamentados. Assim, a organização nacional de defesa vegetal elabora uma
lista de pragas quarentenárias ausentes e presentes que, no Brasil, registra
218 patógenos quarentenários ausentes e sete presentes.
Sempre que uma
nova praga quarentenária é considerada estabelecida no Brasil, há necessidade
de autorização oficial para sua divulgação, já que este fato pode ocasionar
restrições no comércio internacional, com sérios impactos econômicos e
sociais.
Entre os
patógenos quarentenários que merecem atenção especial, pelo impacto que podem
causar ao agro brasileiro, podem-se citar:African Cassava Mosaic Virus (mandioca), Moniliophthora
roreri (cacau), Plum Pox virus (pêssego), Ditylenchus
destructor (milho, batata),Macruropyxis fulva (cana), Maize
Chlorotic Mottle Virus (cana), Pantoea stewartii (milho), Phytophthora
boehmeriae (várias culturas),Puccinia graminis tritici raça Ug99 (trigo), Sugarcane
Mosaic Virus (cana) e Xanthomonas oryzaepv. oryzae (arroz).
A importância
do conhecimento dos patógenos quarentenários ausentes é que podemos
intensificar as ações de exclusão e nos preparar para eventual estabelecimento:
melhoramento para resistência e desenvolvimento de defensivos para registro
emergencial.
Deve-se também
dar atenção aos patógenos quarentenários presentes que exigem medidas que
impeçam seu estabelecimento em locais livres dos mesmos: Guinardia
citricarpa (citros), Mycosphaerella fijiensis (banana
e helicônia), Candidatus Liberibacter spp. (citros,Fortunella
spp., Poncirus spp. e murta), Xanthomonas citri
subsp. Citri (citros, Fortunella spp., Poncirus
spp.) e Xanthomonas campestres pv. vitícola (uva).
As doenças
quarentenárias devem ter mais destaque nos livros-texto usados no ensino da
fitopatologia, valorizando mais os métodos legislativos (leis, decretos e
instruções normativas), e nos manuais que tratam das principais doenças de cada
cultura.
Referente a
educação sanitária vegetal, é fundamental que as pessoas tenham ciência que
nunca devem trazer vegetais de suas viagens, pois estes podem transportar
patógenos quarentenários.
Figura 1: (A) flores de pêssego mostrando sintomas típicos de infecção por Plum Pox virus. (B) Anéis e manchas cloróticos em folhas de pessegueiro. (C) anéis amarelos concêntricos em fruto de pêssego. (D) padrões anelares em frutos de damasco. Foto Sochor et al. (2012) - http://www.mdpi.com/1999-4915/
Figura 2: lesões necróticas e esporulação de Moniliophthora roreri em frutos de cacau. Foto: Johnson et al. (2017) - https://www.ndrs.org.uk/articl
Figura 3: Planta de mandioca apresentando sintomas mosaico causado por African Cassava Mosaic Virus – Foto: Eiselen Foundation Ulm – www.eiselen-stiftung.de/
Figura 4: Plantas de mandioca com sintomas de mosaico causado por African Cassava Mosaic Virus (A, C e D) planta saudável (B) – Foto: Alabi et al, 2011.
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