Bairros das SERs III, IV e V são os mais atingidos, principalmente Damas e Henrique Jorge; falta de vento é outro problema
O aumento das superfícies impermeáveis e a redução da vegetação e das águas superficiais (lagoas, lagos e rios) são algumas das principais causas da formação das ilhas de calor. Em Fortaleza, esses pontos estão localizados nas Secretarias Executivas Regionais (SERs) III, IV e V, tendo maior incidência nos bairros Damas e Henrique Jorge.
Os dados preliminares do estudo "Ilhas Térmicas de Fortaleza", coordenado por pesquisadores da Universidade Federal do Ceará (UFC), apontam uma ocupação de espaços desastrosa, o que resulta um maior desconforto térmico em partes da Cidade.
Uma das orientadoras da pesquisa, Marta Celina Linhares Sales, explica que a falta de arborização e a especulação imobiliária contribuem para o crescimento dessas ilhas.
"Esse estudo nos mostrou a total carência de políticas públicas destinadas à preservação das áreas verdes da cidade. Podemos notar que, em áreas mais carentes, há uma ocupação desastrosa do espaço público, uma extrema massa edificada que não permite que o calor se dissipe", explicou Marta.
Com o objetivo de melhorar este cenário, o Grupo Edson Queiroz lançou "Plante uma árvore. Semeie esta ideia!".
Surpresa
A orientadora conta que o resultado da pesquisa foi surpreendente, pois os estudiosos pensavam que, pelo maior adensamento habitacional, regiões asfálticas maiores, como Aldeota, Meireles e Centro, teriam as maiores zonas de desconforto térmico. Porém, ela informa que foi identificada, nesses locais, uma diminuição dos ventos devido à verticalização das moradias.
"Essa verticalização contribui para o sombreamento da região e, assim, temos zonas de frescor. Mas, na contramão, vem a redução dos ventos, e, como consequência, o aumento da temperatura", detalhou Marta.
Para diminuir essas zonas de desconforto térmico, o engenheiro agrônomo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Controle Urbano (Semam), Pedro Neto, informou que, juntamente com a Empresa Municipal de Limpeza e Urbanização (Emlurb), os órgãos têm intensificado ações de arborização. "Foram realizados diversos plantios de árvores de sombra, como as árvores de 1,80m plantadas no Lago Nossa Senhora da Glória, no Barroso, atendendo aos próprios moradores", pontua Neto.
Com relação à especulação imobiliária, a assessoria do órgão acrescentou que, para a minimização dos impactos ambientais causados pelas obras da construção civil, os artigos 582 a 587 da Lei do Código de Obras e Posturas do Município de Fortaleza exige o plantio de mudas de acordo com a área edificada.
Para edificações residenciais ou de uso misto (residência e comércio), a cada 150m² de área construída, deve haver o plantio de uma árvore; para outros usos, varia de uma árvore a cada 80m² e uma árvore a cada 60m².
Se não for possível plantar todas as árvores no terreno da edificação, o construtor deve plantar o mínimo de 20% do número de árvores, e o restante tem de ser doado em dobro para o Horto Municipal.
Grupo discute preservação
Com o objetivo de discutir ações para a preservação das árvores em Fortaleza, o movimento Pró-Árvore realiza o terceiro encontro do grupo, neste domingo, às 15h, no Centro de Referência Ambiental do Parque do Cocó.
Um dos representantes do projeto, o botânico e engenheiro agrônomo Sérgio Castro relata que Fortaleza tem a cultura de cortar as árvores sem pensar nos malefícios que tal atitude causa. "Não precisa ficar podando as árvores e nem as retirando. Cada vez que se faz isso sentimos o impacto no clima", diz.
Durante o evento, o jornalista Flávio Paiva irá ministrar palestra com a temática "Cidadania Orgânica".
Um ato frequente em Fortaleza, de acordo com Sérgio, é o corte da árvore que impede a visualização de placas de trânsito. "Eles não podiam simplesmente mudar o local da sinalização?", questiona.
Cortes
O botânico explica que já existem tecnologias voltadas para evitar, em muitos casos, os corte de árvores. "Por exemplo, se existe um poste em que a fiação passa perto de uma copa de árvore, não é mais necessário fazer a poda ou a sua retirada, basta reforçar, com material adequado, o cabo próximo à planta".
O engenheiro relata que o foco dos fortalezenses é o concreto, e as árvores são sempre colocadas em segundo plano. "Deveríamos pensar em uma arquitetura bioclimática, ou seja, nos adaptarmos à natureza. Assim, conseguiríamos ter mais sombras e ventilação", enfatiza.
Sérgio Castro destaca, ainda, que alguns moradores pedem para que as árvores sejam retiradas sob alegação de que as mesmas estariam servindo de esconderijo para bandidos. "Esse fato passa a ser um problema social, sendo necessário ser debatido por todos", ressalta.
Árvores nativas, como jenipapo bravo, burra leiteira, pau de ferro, foram plantadas pelo movimento na Praça do Centro de Ciências da Universidade Federal do Ceará (UFC). "Algumas espécies são conhecidas por poucas pessoas. Por isso, queremos que sejam feitas mudas delas para serem replantadas e, assim, não se percam", comenta.
THAYS LAVOR - Diário do Nordeste
Fonte: http://diariodonordeste.globo.com/materia.asp?codigo=1118404
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