Há lugares onde as árvores fazem parte da dinâmica, da rotina, da vida local. Elas preenchem espaços naturais e sentimentais. Existe uma música que diz: “as árvores são fáceis de achar, ficam plantadas no chão (...). Crescem pra cima como as pessoas, mas nunca se deitam, o céu aceitam”*. A Sumaúma da Fazenda Roncador, em São Luis do Quitunde, parece aceitar o céu, a terra, o lugar e as pessoas que vivem ao redor e a divide com pequenos animais, plantas e insetos.
As pessoas, por sua vez, há três gerações crescem junto com ela e a acolhem. Com 91 anos, a Sumamúma exibe grandiosidade e robustez: o tronco possui 18 metros e só é possível avistá-la inteira há certa distância. Foi o primeiro dono da fazenda, Aurélio Buarque Oliveira, quem a plantou e recomendou os cuidados continuados pelo filho, Antonio Buarque, e pelo neto, Ricardo Buarque, quem conta a história e se preocupa com a presença dos insetos e pequenos animais que habitam o interior da árvore.
“Ela vive e junto com ela sobrevivem esses insetos e outras espécies. Toda espécie tem um período de vida e com o tempo ela vai morrer, devem ser tomados cuidados, mas também respeitar a dinâmica natural”, explica a curadora do Herbário do Instituto do Meio Ambiente (IMA), Rosangela Lira Lemos. Mesmo assim, folhas, pedaços de galhos e pequenas partes da árvore foram coletadas para análise.
São Luis do Quitunde dista cerca de 51 quilômetros de Maceió. A Fazenda Roncador possui hoje 208 hectares, mas apenas seis hectares não estão arrendados para a Usina Santo Antonio. A Sumamúma está localizada na sede, perto dela há outra árvore da mesma espécie, um pouco mais jovem: com estimados 50 anos. “O trabalho agora é para que as pessoas evitem jogar lixo em qualquer lugar. A gente também quer saber quais são as espécies que podem ser plantadas pra recuperar a área, principalmente na beira do rio”, diz Ricardo.
Isso porque no entorno há nascentes que correm para formar um pequeno rio que serve à população local e moradores de outras comunidades. Quase todo o leito é cercado por capim e pela cana-de-açúcar. Mesmo com toda a pressão, em alguns lugares as nascentes formam verdadeiros oásis, como nas terras do agricultor Renivan Calheiros Tenório.
Os técnicos da Diretoria de Laboratório coletaram água em dois pontos: em uma nascente e no leito do rio, próximo a escola que atende os moradores locais. A análise preliminar, quanto ao PH e ao nível de oxigênio, atesta boa qualidade. As águas serão agora verificadas quanto a possíveis níveis de poluição. “As pessoas que vivem nessa região usam o rio no dia a dia e o IMA pode também verificar a qualidade dessa água. Além disso, reconhecer a importância de preservação das espécies e estimular para que mais pessoas se empenhem em conservar e replantar,” explicou o diretor-presidente do Instituto, Adriano Augusto.
Escada do céu
A Sumaúma, chamada ainda de Samaúma, é conhecida pelos indígenas da Amazônia como mãe das árvores. Dentro da floresta ela se destaca com altura que pode passar dos 60 metros e por isso também é chamada escada do céu ou árvore da vida. Nas áreas abertas ela se espalha e mostra ainda maior a sapopemba, ou grandes cavidades formadas pelas raízes altas, onde até pessoas podem encontrar abrigo. O tronco dela costuma reter água que, em determinados períodos, escorre para a terra ao redor.
Bastante conhecida na América do Sul ela é da família Malvaceae e do gênero Ceiba, identificada na espécie Pentandra Ceiba (L) Gaertn. Hoje, aos pés da Sumaúma da Fazenda Roncador, há uma placa com os nomes: popular e científico - quanto ao gênero e espécie. Ao lado dela, a madeira sobre as raízes improvisa um banco que serve às prosas e descansos. Vista de perto a placa é bonita e dá um aspecto diferente ao local. Vista de longe dá a dimensão da grandiosidade da árvore.
Fonte:Ascom/IMA
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